terça-feira, novembro 22, 2005

A Marcha dos Pinguins

Este documentário tem vindo a ser promovido na imprensa como sendo o filme francês de maior sucesso de todos os tempos nos Estados Unidos. Sem saber se isto era ou não um bom sinal, lá se compraram os bilhetes para a respectiva sessão.

E o que se viu então? A história dos pinguins imperadores e do seu ciclo de reprodução, algures nos confins inóspitos da Antártida, em condições tão adversas que chegam a ser difíceis de imaginar.

As imagens são lindíssimas, a história está muito bem contada e o filme vale claramente a pena. A sério, vale mesmo a pena ir ver, levando toda a família, se possível.

Único problema: o realizador decidiu acompanhar de forma mais próxima um casal de pinguins mais o respectivo rebento. E até lhes deram umas vozes próprias, adicionais ao comentário em off do narrador que acompanha a acção. Ou seja, parece uma produção da Disney, com os bichos a representar personagens - de grande heroísmo e virtude, claro.

Conclusão: se fosse uma produção da National Geographic ou da Discovery, estou convencido que seriam 5 estrelas luzídias. Assim...
Consta que a versão americana é melhor, só com comentários do Morgan Freeman. A comprovar um dia destes, em DVD.

Site oficial: http://wip.warnerbros.com/marchofthepenguins/

domingo, novembro 20, 2005

O Fiel Jardineiro

Confesso que, embora os ache interessantes, não sou grande fã dos livros do John Le Carré. Pelo que foi com algum cepticismo que me dirigi ao cinema para ver este filme, mais curioso pelo facto do realizador ser Fernando Meirelles, o mesmo que nos deu a "Cidade de Deus".

Desde logo, o título é totalmente enganador, o que se calhar afasta algumas pessoas das salas. Um nome como O Fiel Jardineiro (e ainda mais o original "The Constant Gardener") remete para aquelas produções faustosas da Merchant Ivory a partir de uma qualquer adaptação de um clássico da Jane Austen.

Mas o que encontramos é afinal um filme actual, sobre uma problemática que já não é actual porque se repete desde sempre: o abandono e exploração a que a África é votada pelo mundo. Neste caso, Le Carré fez uma incursão pelos meandros da indústria farmacêutica e pela forma como esta testa alguns novos medicamentos - em seres humanos e obviamente em países onde a vida humana vale muito pouco e se compra com meia dúzia de patacos.

É claro que no final, depois de passarem os nomes dos milhares de pessoas que participaram na feitura do filme e 99% do público já saiu da sala, aparece o habitual disclaimer afirmando que todos os nomes de pessoas e empresas são fictícios. Mas surpreendentemente, Le Carré acrescenta uma segunda frase dizendo que, ao fazer a sua investigação para escrever o livro, o que descobriu sobre a indústria farmacêutica faz o filme parecer um postal ilustrado! Ou seja, neste caso, a ficção peca por defeito em relação à horrível realidade.

E só posso dizer que o filme é de facto tudo menos "simpático". Aliás, é tão subtil quanto um murro no estômago. A violência não é explícita (com poucas excepções), mas sim intuída. E deixa-nos com um nó na garganta, que começa ao minuto 15 e já não nos larga até ao fim.

Quase todo a acção é passada no Quénia mas, de caminho, Le Carré leva também o protagonista até ao Sudão, para chamar a atenção para outro genocídio que tem sido olimpicamente ignorado e para os métodos de recrutamento da guerrilha homicida e diabólica do Exército de Resistência do Senhor. Como é que as Nações Unidas e os países ricos defensores da justiça global ainda não intervieram a sério nesta situação é uma questão que depressa nos perguntamos. Será por causa do petróleo que o Governo de Cartum controla?...

Conclusão: excelente argumento, uma bela história de amor, actores de referência, excelente realização. No final, este pode não ser o filme do ano. Mas é seguramente obrigatório. Nem que seja para nos apercebermos do paraíso em que vivemos.

Protagonistas: Ralph Fiennes e Rachel Weisz

sábado, novembro 12, 2005

Fotógrafos da Natureza

Prémio Inovação
Deixo-vos uma sugestão para uma exposição que vi e que recomendo a visita. Chama-se Fotógrafos da Natureza e está patente no Museu de História Natural até ao dia 28 de Novembro.

Tem por base um concurso anual de fotografia, organizado desde 1964 pelo Museu de História Natural de Londres e pela BBC Wildlife Magazine. As imagens expostas foram seleccionadas entre 16 500 fotografias dos mais consagrados fotógrafos de natureza. As fotografias realmente indiciam a qualidade dos fotógrafos presentes, captam momentos brilhantes, únicos e celebram a beleza e a variedade da natureza em todo o seu esplendor. Cada fotografia conta uma história ou uma parte de uma história, como e porque foi tirada, muitas delas captadas em momentos de perigo para o próprio fotógrafo.
Mas não são só as fotografias em si que são verdadeiramente mágicas. O verdadeiro expoente é o objecto da própria exposição: o Planeta Terra, as plantas e os animais que nele habitam.
Vejam e deixem-se deslumbrar com as imagens...

De 2ª a 6ª feira: 10h/13h e das 14h/17h Sábados e Domingos: das 14h às 17h Preço: 2,5 € (adultos)

PostCrossing


Para quem gosta de receber postais das mais diversas partes do mundo, sem ser em formato electrónico, então tem decididamente que aderir ao projecto do Post Crossing. Não envolvendo quaisquer custos, para além do preço dos selos para envio dos postais, o processo é muito simples: registo no site http://www.postcrossing.com e, a partir do momento em que se envia o primeiro postal, tem-se direito a receber pelo menos um outro de volta. Eu aderi e, em questão de 2 meses, enviei um postal e recebi 3: um da Bélgica, outro da Grécia e, por último, um dos EUA.
Para além de recebermos algumas belas imagens, é bom dar outro uso à nossa caixa de correio que não apenas a recepção de contas para pagar…

quarta-feira, novembro 02, 2005

I Am a Bird Now

Este é o título do novo album de Antony & The Johnsons, vencedor do Mercury Prize em Setembro passado e que acaba de nos presentear com um fabuloso concerto num Coliseu dos Recreios repleto, mesmo em fim-de-semana prolongado e com uma noite chuvosa - de resto a condizer com o tom sofrido de Antony.
Este novo disco é excelente do princípio ao fim, com a incrível voz de Antony a transmitir um desassossego constante, reflexo talvez de quem não se sente de forma alguma à vontade no corpo e no sexo com que nasceu.
No concerto, para além dos seus dois albuns, houve ainda tempo de explorar alguns temas igualmente inquietantes de Nico, Leonard Cohen e Moondog (para mais informações sobre este personagem, é dar uma olhada em http://sound--vision.blogspot.com/2005/11/para-redescobrir-moondog.html), sempre em interpretações sentidas e fabulosamente executadas.
Um disco a ouvir bem alto, de forma a provocar arrepios na espinha.

Himalaya

Para quem não tenha ainda reparado, o Michael Palin voltou "à estrada". Este ex-Monty Pithon tem, desde há alguns anos a esta parte, vindo a dedicar-se à realização de séries sobre grandes viagens que têm vindo a conquistar o público e a gerar algum culto.
Depois de começar com mais uma réplica da viagem de Phileas Fogg em a "Volta ao Mundo em 80 Dias", passando por uma viagem de Pólo a Pólo e terminando com uma exploração intensiva do Sahara e dos seus povos, tem agora uma nova série sobre os Himalaias. Em 125 dias ele percorre o tecto do mundo, passando pelo Anapurna e o campo base do Evereste, e atravessando 6 países: Paquistão, India, Nepal, China (leia-se Tibete), Butão e Bangladesh.
As paisagens são fabulosas, bem como a diversidade de costumes, povos e bizarrias de que ele nos dá conta. E sempre com algum humor (britânico) e uma visão muito pessoal, embora distanciada e relativamente isenta.
Tem vindo a passar na 2: às 3ªs feiras, logo à seguir ao Jornal da Noite, ou seja, por volta das 22:30. E para quem já perdeu alguns episódios, a boa notícia é que já se consegue encontrar o DVD o livro da série na amazon.co.uk.

terça-feira, novembro 01, 2005

Hayao Miyazaki

Este será seguramente o título mais estranho de todos os posts que até agora por aqui apareceram.
O nome (porque é um nome) não deve, à primeira vista, dizer nada à maior parte de vós. Mas se mencionarmos a Heidi, o Marco ou "Conan, o Rapaz do Futuro", mais o seu inseparável companheiro Jimsy, haverá seguramente muitos trintões que começarão a esboçar um sorriso saudosista. Nos dois primeiros ele era ainda desenhador e "cenográfo", enquanto no caso de Conan era já o realizador.
O post vem a propósito do seu mais recente filme, "O Castelo Andante", em exibição nos cinemas, e de "A Viagem de Chihiro", este disponível em DVD, numa Edição Especial bem recheada de extras.
Em qualquer deles, reconhecemos o traço a que nos habituámos nas séries que nos encantaram nos anos 70 e 80, mas ainda mais refinado e com uma imaginação que parece não ter limites..
Embora por vezes "disfarçados" com vestes e personagens ocidentais (como já o eram Heidi ou Marco), os filmes apelam claramente ao imaginário fantástico japonês (povoado de Deuses e Feiticeiros) e em ambos os casos relatam a história de personagens infantis ou juvenis a braços com acontecimentos que ultrapassam o nosso universo "terreno".
Em O Castelo Andante, Sophie é uma adolescente que vive num reino situado algures entre a época victoriana e um sonho de Júlio Verne. Esta vê a sua vida virada do avesso quando se cruza com o belo feiticeiro Howl. Em consequência desse encontro, é transformada numa velha de 90 anos pela ciumenta Bruxa do Nada, que pretende possuir (literalmente) o coração de Howl. Como devem adivinhar, o restante do filme é uma aventura no sentido de quebrar essa maldição, com a bondade irredutível de Sophie a vencer no final e a ajudar a trazer paz ao reino, entretanto envolvido numa guerra medonha.
E se o Castelo Andante é de uma candura e beleza fantásticos, já A Viagem de Chihiro (Spirited Away, na versão Inglesa) é uma absoluta obra-prima. Vencedor do Óscar para o Melhor Filme de Animação em 2002, tem um argumento muito mais robusto e uma animação onde não se consegue encontrar uma única falha. Depois de se enganarem num caminho e irem parar ao que parece ser um parque temático abandonado, os pais de Chihiro comem uma refeição que era destinada aos Deuses, pelo que são transformados em porcos. Para os salvar, ela terá que navegar pelo mundo dos espíritos e passar por uma série de aventuras, descobrindo capacidades que não pensava possuir. E mais não conto. Apenas digo: uma história e um filme lindíssimos.
Outros filmes a destacar da filmografia de Hayao Miyazaki: Princesa Mononoke e Porco Rosso.