segunda-feira, janeiro 23, 2006

Os sete mensageiros

Depois de há alguns meses ter devorado O Deserto dos Tártaros - uma verdadeira obra-prima que me ficará para sempre na memória (ver primeira sugestão) -, foi agora a vez do "novo" livro de contos de Dino Buzzati, recentemente lançado pela Cavalo de Ferro e baptizado a partir do primeiro dos dezanove contos que o constituem: Os sete mensageiros.
Coloco novo entre aspas, pois esta colectânea data de 1942 mas, estranhamente, só agora conhece tradução portuguesa.
E, felizmente, a excelência do livro anterior prolonga-se para os contos aqui reunidos. Não sendo todos igualmente bons (seria quase pedir o impossível), não há um único que se leia com menos entusiasmo ou avidez.
O fio condutor entre todos eles é a morte, a nossa relação com a mesma e, de quando em vez, o contacto entre o nosso mundo e o "outro". Estas incursões pelo fantástico poderiam ser um problema, pelo menos para mim, pois é tema que normalmente me desagrada ou desinteressa, mas neste caso resultam e nalguns casos são elas que criam o mote e dão sentido às histórias (ou melhor, estórias - que me custo a habituar...)
Resumindo, basta ler o primeiro conto para nos apercebermos que tão cedo não vamos conseguir parar...
Mais info em: http://www.cavalodeferro.com/index.php?action=product_info&products_id=22

domingo, janeiro 08, 2006

Desgraça

Neste excelente romance de J.M. Coetzee, a figura central é um professor universitário na Cidade do Cabo, já entrado nos cinquentas que, depois de dois divórcios, continua a acumular casos amorosos (ou melhor, sexuais).
Até que se envolve com uma das suas alunas que, depois de uma cumplicidade inicial, acaba por acusá-lo de assédio sexual.
Quando a sua demissão se torna inevitável, David Lurie (é este o seu nome) refugia-se na quinta da filha, isolada no fim do mundo que é o interior Sul-Africano.
Aqui, onde ele pensava que poderia descansar, ler, escrever e reavaliar a sua forma de estar na vida, acaba por se afundar cada vez mais, numa sucessão de acontecimentos que infelizmente descreve da pior forma o que é hoje a sociedade daquele país.
As descrições são fabulosas, quase cinematográficas, e as cenas muito fortes, mais ainda por causa dessa capacidade de nos fazer sentir que estamos lá, a assistir a tudo o que se passa.
Com este livro, Coetzee ganhou o Booker Prize de 1999 (o segundo da sua carreira) e reforçou o estatuto que o projectou para o Nobel da Literatura, com que foi laureado em 2003.
É seguramente um homem particular e multifacetado: graduou-se simultaneamente e com distinção em duas áreas bastante diversas - em Inglês e em Matemática - e iniciou a sua carreira como Programador Informático, ao mesmo tempo que preparava a sua tese sobre um romancista Inglês.
Do Editor: "Desgraça é o retrato de uma nova África do Sul e dos seus também novos problemas, um retrato que, em última análise, nos fala da beleza e do amor. Um romance inteligente, fértil, calmo e brutal que confirma Coetzee como um dos grandes romancistas do nosso tempo."

Edições Dom Quixote

terça-feira, janeiro 03, 2006

Feliz Natal

Estreou há pouco um belo filme, com um nome que decididamente não ajuda. Chama-se simplesmente Feliz Natal.
Não ajuda porque nos faz pensar logo naqueles filmes "xaroposos", normalmente de origem americana, produto típico da época natalícia e destinados a instilar na clientela (à força bruta!) os valores desta quadra. Bom, a verdade é que também aqui há um pouco disso, mas felizmente apenas q.b.
Neste caso, estamos a falar de um filme europeu, co-produção entre vários países e que se inspira numa história verídica que aconteceu durante a Primeira Guerra Mundial.
Na noite de Natal de 1914, na frente de batalha (penso que na Alsácia) e naquele universo das tristemente célebres trincheiras, soldados franceses, escoceses e alemães, devido a uma sucessão de acontecimentos (e de sentimentos), iniciaram um breve período de tréguas, que os levou a sair dos seus abrigos e a confraternizar, quase como se de amigos se tratassem.
O filme não se resume a um desfile de boas intenções, mas estas estão lá. E tanto os actores como a realização são muito bons, pelo que o todo resulta numa história muito bem contada, com a satisfação extra de sabermos que aquilo (excluindo porventura os pormenores romanceados) aconteceu de facto.
P.S.: Algo que achei excelente foi cada grupo de soldados falar a respectiva língua-mãe. Nada daquela mania estúpida de pôr toda a gente a falar inglês com sotaques parvos.
P.P.S: Não percam!