quinta-feira, dezembro 29, 2005

Broken Flowers - Flores Partidas

Confesso que entrei na sala a medo depois do susto que foi Coffee and Cigarettes - seguramente uma das maiores "secas" da história cinematográfica recente. Mas este novo filme do Jim Jarmusch é uma surpresa muito razoável.

Aparece nas nossas salas já com o carimbo do prémio ganho em Cannes e tendo como actor principal o Bill Murray (sem dúvida, o protagonista do maior "comeback" cinematográfico desde o John Travolta no Pulp Fiction).

A história tem um ritmo e feeling especial, com um humor discreto e suave, e o desfile daquela América profunda e das antigas namoradas de Don é de alguma forma encantatório.

Tudo tem no entanto um sabor a "improvável", desde a placidez/preguiça de Don até às sucessivas situações em que encontra as suas antigas conquistas, o que não nos deixa mergulhar verdadeiramente no filme.

Em jeito de conclusão, apenas uma verdadeira desilusão: o final. Se calhar, para muita gente, faz sentido e até "está na moda". Quanto a mim, pareceu-me apenas um beco sem saída, de um cineasta/argumentista que não foi capaz de decidir...

Sinopse: Don Johnston (Bill Murray, novamente a vestir a pele de palhaço triste que já lhe conhecíamos dos magníficos papéis em "Lost in Translation" e "Um Peixe Fora de Água") é um especialista em computadores (à custa deles enriqueceu) e um "Don Juan maladroit" no que diz respeito a mulheres. A sua última namorada está farta dele e abandona-o. É aí que recebe uma carta anónima, de uma antiga namorada que lhe confessa que Don é pai e que o filho adolescente resolveu ir à sua procura. Incentivado pelo seu vizinho, com espírito de detective, Don, meio contrariado, decide procurar as prováveis mães desse filho, num périplo que o levará a reencontrar as suas antigas paixões e a perceber a solidão em que se tornou a sua vida.

Alice (BSO)

A sensação de qualquer coisa especial já tinha ficado entranhada aquando da visita ao cinema para ver o filme.
E editado o disco, mais do que se confirmam as primeiras impressões: a banda sonora era de facto espectacular! Considerado já pelo DN:música como o melhor disco nacional de 2005, Bernardo Sassetti compôs seguramente uma das melhores bandas sonoras alguma vez criadas para um filme português.
Citando Nuno Galopim no Sound + Vision: "Em espaço não-jazz, a música de Alice é um espantoso universo de caminhos definidos ao piano (nos dedos do próprio Bernardo Sassetti), com intervenções do clarinete de Rui Rosa e do contrabaixo de Yuri Daniel, envolvendo ainda, a dados momentos, elementos ambientais da sonoplastia do filme, colocando esta música no seu lugar de origem: uma Lisboa de horas perdidas e sofridas, uma Lisboa actual e desencantada, melancólica. Os ciclos melódicos aceitam a ideia de temas e variações, num jogo em ciclos que nos encanta."
Ideal para ouvir no calor do lar, num dia de chuva, enquanto se lê um bom livro e/ou se bebe um chá bem quente...

Breve História de Quase Tudo

Bill Bryson, conhecido pela sua excelente literatura de viagens (por exemplo, o delicioso Na Terra dos Cangurus) e pelo seu irresistível sentido de humor, decidiu agora fazer uma incursão pelo mundo da ciência através deste Breve História de Quase Tudo. E, como sempre, saiu-se mesmo muito bem. Estou em crer que, desde o Richard P. Feynman, não aparecia alguém que conseguisse transmitir tanta informação científica de forma tão agradável e interessante. Este livro lê-se como um romance, ou melhor, como uma colectânea de contos, partindo de há mais de quatro mil milhões de anos atrás até chegar aos nossos dias, passando pelo infinitamente grande e pelo infinitamente pequeno do universo que nos rodeia e compõe.
Como resumo, não resisto a plagiar a sinopse do livro, porque é tal e qual: "Uma pesquisa digna de um mamute, anos de investigação e como resultado... O Big Bang, os dinossauros, o aquecimento global, geologia, Einstein, os Curies, a teoria da evolução, a gasolina com chumbo, a teoria atómica, os quarks, os vulcões, os cromossomas, o carbono, os organismos edicarianos, a descontinuidade de Moho, o ADN, o Charles Darwin e um zilião de outras coisas. Em linguagem não demasiado científica, sempre clara e com as devidas anotações, o leitor é conduzido, por este autor extremamente divertido e bem informado, numa viagem através do tempo e do espaço, cujo prato forte é também revelar-nos algumas ironias do desenvolvimento científico. Esta é verdadeiramente uma obra que nos dá a sensação de ter o mundo na palma da mão."
Quetzal Editores
PS: A recomendação baseia-se na versão em Inglês (A Short History of Nearly Everything), mas presume-se que a tradução portuguesa faz juz ao excelente original.