O Fiel Jardineiro
Confesso que, embora os ache interessantes, não sou grande fã dos livros do John Le Carré. Pelo que foi com algum cepticismo que me dirigi ao cinema para ver este filme, mais curioso pelo facto do realizador ser Fernando Meirelles, o mesmo que nos deu a "Cidade de Deus".
Desde logo, o título é totalmente enganador, o que se calhar afasta algumas pessoas das salas. Um nome como O Fiel Jardineiro (e ainda mais o original "The Constant Gardener") remete para aquelas produções faustosas da Merchant Ivory a partir de uma qualquer adaptação de um clássico da Jane Austen.
Mas o que encontramos é afinal um filme actual, sobre uma problemática que já não é actual porque se repete desde sempre: o abandono e exploração a que a África é votada pelo mundo. Neste caso, Le Carré fez uma incursão pelos meandros da indústria farmacêutica e pela forma como esta testa alguns novos medicamentos - em seres humanos e obviamente em países onde a vida humana vale muito pouco e se compra com meia dúzia de patacos.
É claro que no final, depois de passarem os nomes dos milhares de pessoas que participaram na feitura do filme e 99% do público já saiu da sala, aparece o habitual disclaimer afirmando que todos os nomes de pessoas e empresas são fictícios. Mas surpreendentemente, Le Carré acrescenta uma segunda frase dizendo que, ao fazer a sua investigação para escrever o livro, o que descobriu sobre a indústria farmacêutica faz o filme parecer um postal ilustrado! Ou seja, neste caso, a ficção peca por defeito em relação à horrível realidade.
E só posso dizer que o filme é de facto tudo menos "simpático". Aliás, é tão subtil quanto um murro no estômago. A violência não é explícita (com poucas excepções), mas sim intuída. E deixa-nos com um nó na garganta, que começa ao minuto 15 e já não nos larga até ao fim.
Quase todo a acção é passada no Quénia mas, de caminho, Le Carré leva também o protagonista até ao Sudão, para chamar a atenção para outro genocídio que tem sido olimpicamente ignorado e para os métodos de recrutamento da guerrilha homicida e diabólica do Exército de Resistência do Senhor. Como é que as Nações Unidas e os países ricos defensores da justiça global ainda não intervieram a sério nesta situação é uma questão que depressa nos perguntamos. Será por causa do petróleo que o Governo de Cartum controla?...
Conclusão: excelente argumento, uma bela história de amor, actores de referência, excelente realização. No final, este pode não ser o filme do ano. Mas é seguramente obrigatório. Nem que seja para nos apercebermos do paraíso em que vivemos.
Protagonistas: Ralph Fiennes e Rachel Weisz
Desde logo, o título é totalmente enganador, o que se calhar afasta algumas pessoas das salas. Um nome como O Fiel Jardineiro (e ainda mais o original "The Constant Gardener") remete para aquelas produções faustosas da Merchant Ivory a partir de uma qualquer adaptação de um clássico da Jane Austen.
Mas o que encontramos é afinal um filme actual, sobre uma problemática que já não é actual porque se repete desde sempre: o abandono e exploração a que a África é votada pelo mundo. Neste caso, Le Carré fez uma incursão pelos meandros da indústria farmacêutica e pela forma como esta testa alguns novos medicamentos - em seres humanos e obviamente em países onde a vida humana vale muito pouco e se compra com meia dúzia de patacos.
É claro que no final, depois de passarem os nomes dos milhares de pessoas que participaram na feitura do filme e 99% do público já saiu da sala, aparece o habitual disclaimer afirmando que todos os nomes de pessoas e empresas são fictícios. Mas surpreendentemente, Le Carré acrescenta uma segunda frase dizendo que, ao fazer a sua investigação para escrever o livro, o que descobriu sobre a indústria farmacêutica faz o filme parecer um postal ilustrado! Ou seja, neste caso, a ficção peca por defeito em relação à horrível realidade.
E só posso dizer que o filme é de facto tudo menos "simpático". Aliás, é tão subtil quanto um murro no estômago. A violência não é explícita (com poucas excepções), mas sim intuída. E deixa-nos com um nó na garganta, que começa ao minuto 15 e já não nos larga até ao fim.
Quase todo a acção é passada no Quénia mas, de caminho, Le Carré leva também o protagonista até ao Sudão, para chamar a atenção para outro genocídio que tem sido olimpicamente ignorado e para os métodos de recrutamento da guerrilha homicida e diabólica do Exército de Resistência do Senhor. Como é que as Nações Unidas e os países ricos defensores da justiça global ainda não intervieram a sério nesta situação é uma questão que depressa nos perguntamos. Será por causa do petróleo que o Governo de Cartum controla?...
Conclusão: excelente argumento, uma bela história de amor, actores de referência, excelente realização. No final, este pode não ser o filme do ano. Mas é seguramente obrigatório. Nem que seja para nos apercebermos do paraíso em que vivemos.
Protagonistas: Ralph Fiennes e Rachel Weisz
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