sábado, julho 08, 2006

A Short History of Nearly Everything

English Version of previous post Breve História de Quase Tudo.
Bill Bryson, well known for his excellent travel literature and for his irresistíble sense of humour, has decided to make an incursion into the world of science. And, as always, he did extremely well!
I'm pretty sure that, since Richard Feynman, there hasn't been anyone who was able to transmit so much scientific information in such a pleasant and interesting way.
This book reads like a novel, or actually, like a short story collection, starting from over four billion years ago and ending in the present day, while going through every aspect of the infinitely large and the infinitely small of the universe that surrounds and constitutes us.
PS: This recomendation is based on the original version in English. But I presume the German or Portuguese translations to retain the quality of the excellent original.
Extract from the abstract to the portuguese edition: "A Mammoth-sized research, many years of labour and the result is... the Big Bang, the dinossaurs, global warming, geology, Einstein, the Curies, Evolution Theory, leaded gasoline, quantum physics, quarks, vulcanoes, cromossomes, carbon, edicarian organisms, ADN, Charles Darwin and a zillion things more."
Extract from Amazon.co.uk Review: "One compelling theme that appears again and again is the utter unpredictability of the universe, despite all that we think we know about it. Nervous page-turners may care to omit the sensational chapters on the possible ways in which it all might end in disaster--Bryson enumerates with cheerful relish the kind of event that makes you want to climb under the bedclothes: undetectable asteroid colliding with the earth; superheated magma chamber erupting in your back garden; ebola carrier getting off a plane in London or New York; the HIV virus mutating to prevent its destruction in the mosquito's digestive system. Indeed, the chief theme of this sprightly book is the miraculous unlikeliness, in a universe ruled by randomness, of stability and equilibrium--of which one result is ourselves and the complex, fragile planet we inhabit. --Robin Davidson"
A Short History of Nearly Everything ~Bill Bryson (Black Swan)

Going International!

After a time-out period, "La Vie en Prose" is back. And it's gone international!
The reason for this is my recent move to Germany.
For a while I wondered if it was worth going on with the blog's maintenance. And I came to the conclusion that I would give it a try, but aiming at a wider audience and in a language that would allow my new colleagues and friends to take a peek every now and then.
Nevertheless, there will probably be occasional posts in Portuguese, if it makes particular sense or if the subject is only relevant to Portuguese readers.
The themes will remain the same: books, cinema, music, restaurants, special places anywhere on Earth - or basically everything that makes this life worth living!
So, drop by every now and then to check what's new...
Photo: courtesy of Zé Luís Brandão.

terça-feira, abril 25, 2006

Tromba Rija @ LX

Nota: Post actualizado (preço) após nova visita em Dezembro de 2008 e que confirmou as excelentes impressões anteriores.

E lá fomos nós, com muita água na boca, experimentar a versão lisboeta de um clássico da nossa gastronomia - o famoso Tromba Rija!
Nascido em Marrazes, mesmo junto a Leiria, tornou-se um conhecido local de peregrinação pela absoluta excelência da comida. Agora, pelos vistos, decidiram rentabilizar o conceito, tendo aberto um TR no Porto (Gaia) e outro agora em Lisboa.
E que conceito é esse? Simplesmente: coma tudo o que quiser/puder e no final pague 32,50 Euros (preço eventualmente mais alto ao fim-de-semana).
E o que se entende por "tudo"? Bem, "tudo" significa dezenas de especialidades, divididas entre Frios, Fritos, Quentes, Queijos e Doces - tudo isto em regime de Self-Service. E às 22h ainda começam a servir um excelente Bacalhau Assado na Brasa, com batatinha a murro e migas, bem como uma Vitela Assada (que já nem consegui provar, atingido que estava o limite do humanamente possível).
No final da refeição, já sem termos de nos levantar (como se conseguíssemos!?!), são servidos um Gelado de Limão - para "desenjoar" - e uma fantástica Travessa de Frutas, que leva das mais comuns até a algumas exóticas que nem sequer conhecia. Segue-se o café, juntamente com um enorme cesto de frutos secos e uns digestivos (Porto, Moscatel e Aguardente), provavelmente para encher aqueles improvavéis interstícios de estômago que ainda tenham escapado à nossa gula furiosa.
Para quem fuma, o cesto de frutos secos traz ainda uma surpresa: um belo saquinho de tabaco e mortalhas, para quem quiser enrolar ali mesmo um belo cigarro.
E sobre a comida? Bom, o que espanta neste restaurante é: como é que se consegue que tudo, sem qualquer excepção que tenhamos notado, seja de tão absoluta qualidade e tão saboroso, quando se cozinha em tais quantidades? É o segredo da casa e não irão com certeza desvendá-lo. Apenas vos digo: ABSOLUTAMENTE A NÃO PERDER!
Ah, e não se esqueçam: nada de comer durante o dia em que lá forem. Nem sequer um amendoim! Porque vão precisar de toda a capacidade estomacal que tiverem. Mesmo!
Rua Cintura do Porto de Lisboa, Ed. 254 - Armazém 1 (junto à estação de Santos, do lado do Rio)
Tel. 21 397 15 07

Lua-de-Mel no Irão

Numa altura em que tanto se fala no Irão, infelizmente pelas piores razões, este livro é o perfeito contra-ponto àquela que é a nossa percepção daquele país e do seu povo.
Este não é um romance, mas sim um livro de viagens, escrito por uma jornalista canadiana (Alison Wearing) já com alguma prática nestas lides.
Ela gostava de visitar o Irão, mas achava (e muito bem!) que era muito díficil - se não impossível - fazê-lo de forma solitária, pelo que convenceu um seu amigo a fazer-se passar por marido e percorreram este país durante vários meses, invocando como motivo da visita o facto de estarem em lua-de-mel (o que provoca as reacções mais diversas a quem se encontra com eles, desde a total incredulidade ao riso incontrolável)!
Mas, para além das esperadas incursões sobre o modo de pensar deste povo e da forma como a religião e a Revolução Islâmica são encaradas, o que verdadeiramente ressalta do livro e o que o torna tão interessante, é a generosidade pura e genuína do povo Iraniano, há muito perdida no nosso Ocidente.
Na minha opinião, é uma leitura obrigatória nesta época em que as opiniões se extremam e se mencionam hipóteses de mais intervenções militares - para mostrar que um Governo ou Presidente nem sempre representam o seu Povo, mesmo que tenha sido esse Povo a elegê-lo.
Editora: Gótica (2001)
Título Original: Honeymoon in Purdah: An Iranian Journey

sábado, março 11, 2006

Os Três Enterros de um Homem

Aparentemente, Tommy Lee Jones apanhou o síndroma "Clint Eastwood" (que ultimamente contagiou mais uns quantos, entre eles George Clooney) e, como ele, decidiu passar para o lado de trás da câmara.

E chamou desde logo a atenção em Cannes, onde conquistou os prémios de Melhor Argumento e Melhor Actor. É de facto uma excelente estreia esta. Mais uma vez à imagem de vários filmes de Clint Eastwood, conta a história de um homem simples que valoriza a honra, a lealdade e a amizade acima de tudo.

"The Three Burials of Melquiades Estrada", no original, fala de um emigrante ilegal mexicano que é encontrado morto no deserto Texano. Em sucessivos flashbacks, ficamos a saber que Pete Perkins, o seu melhor (único?) amigo, que o tinha acolhido e protegido, lhe tinha prometido em vida que, caso alguma coisa lhe acontecesse, o levaria para junto da família, para ser enterrado na sua terra natal.

Como as promessas são para se cumprir, e perante a inacção das autoridades locais, Pete descobre o assassino de Melquiades e obriga-o a transportar o corpo de regresso a casa, numa viagem repleta de peripécias e em sentido contrário àquele que as autoridades americanas de controlo da fronteira estão acostumadas a impedir.

Verdadeiramente bonito e com excelentes actuações de Barry Pepper, que representa o assassino de Melquiades, e do próprio Tommy Lee Jones.

Site oficial: http://www.sonyclassics.com/threeburials/

Restaurante do Hotel Zenit Lisboa

Abriu há pouco em Lisboa o Hotel Zenit, resultado da recuperação, por um grupo hoteleiro espanhol, de um belo prédio de traça antiga que já arriscava a ruína completa, ali na 5 de Outubro.
E a boa surpresa deste hotel, para além da excelente renovação, é mesmo o seu restaurante.
Primeiro, a decoração. Moderna e de excelente gosto, extremamente elegante, confortável e acolhedora (a lembrar o LA Caffé). Sentimo-nos num restaurante de gama superior, o que faz sentido se considerarmos que o Zenit é um 4 Estrelas. O único senão é não ter janelas para o exterior, mas a luz e as cores escolhidas fazem facilmente esquecer esse ponto.
Depois, o serviço. Atencioso, muito simpático, e profissional sem ser intrusivo.
E o que verdadeiramente interessa: a comida. A Zenit decidiu importar de Espanha o conceito de Menu, bastante habitual entre os nossos vizinhos à hora de almoço. Ou seja, por um preço fixo, neste caso apenas 12 Euros, escolhemos uma refeição completa - Primeiro Prato, Segundo e Sobremesa - a partir de 15 opções possíveis: 5 Primeiros, 5 Segundos e 5 Sobremesas. Só as bebidas, incluindo café, são pagas à parte.
Nesta primeira visita (e sem dúvida hão-de seguir-se outras) escolheram-se para Primeiros Pratos um Risotto com Mascarpone e uns Espargos Salteados com Tomate. O Risotto estava simplesmente espectacular e os Espargos estavam impecávelmente temperados e "al dente".
Como Segundos, escolheram-se uma Massada de Peixe e Tamboril com Presunto, mais uma vez em grande nível. Tudo muito fresco e saboroso, e sempre com uma espantosa apresentação.
Finalmente, as sobremesas, que foram um autêntico remate à baliza. Porque demorava uns 20 minutinhos a preparar, pediu-se desde logo um Souflé de Chocolate que depois se acompanhou com uma Tarte de Queijo com Caramelo. Estavam ambas deliciosas e só não se comeram com maior prazer porque os estômagos já estavam no limite das respectivas capacidades.
Ou seja, estamos a falar de cozinha de nível muito alto, em porções normais, com uma apresentação digna de um qualquer restaurante Gourmet, a preços praticamente iguais aos praticados pelos restaurantes populares da mesma zona. Conclusão: uma pechincha!
E à noite? Bom, não sei. Mas não me admirava que custasse o dobro ou o triplo. Confesso que nem sequer olhei para a Ementa normal, pois as escolhas do Menu eram mais do que atraentes.
Morada: Av. 5 de Outubro, 11 (mesmo junto à Maternidade Alfredo da Costa)

domingo, março 05, 2006

Milho Rei

Nova sugestão para um retiro gastronómico, daqueles que felizmente ainda vamos encontrando por esse Portugal, muito especialmente no Norte do país.

Comida caseira, baseada em receitas tradicionais mas com alguns retoques para as ajustar aos tempos. E preços simpáticos para porções generosas. Ou melhor, MUITO generosas! Sim, que estamos em terra de gente de trabalho...

O restaurante em causa chama-se Milho Rei e fica em Amares, mais ou menos a meio caminho entre Braga e o Gerês.

As instalações são simpáticas, renovadas e até um pouco elegantes, mas mantendo aquele ar confortável e amigável, como que dizendo que todos são bem-vindos.

Clientela diversa, com muita gente jovem e muitos com ar de habituais. Como há espaço, é bom para grupos, até de alguma dimensão, como acontecia no dia da segunda visita.

Foram provados no primeiro dia o Bacalhau com Broa e o Cabrito Assado no Forno, ambos simplesmente fabulosos e companhados por belas batatas a murro e por uns grelos temperados com mestria. O bacalhau era de excelente qualidade e chegava quase ao nível daquela que é a referência absoluta para este prato - o Restaurante do Hotel Camelo, em Seia.

Em qualquer dos casos, estamos a falar de meias-doses que alimentariam perfeitamente duas pessoas, mas nós não sabíamos, pelo que saímos do local a rebolar, tornando inclusive impossível provar qualquer das sobremesas que tão bom aspecto tinham.

As entradinhas, que também merecem referência, eram muito simpáticas, tendo sido provados uns carnudos mexilhões e o paté de atum.

No dia seguinte, e repetindo o erro do dia anterior, foi pedida uma dose de Posta Mirandesa que (curiosamente denominada de "Falsa" na conta entregue!?) era perfeitamente gigantesca! Devia ser quase 1 Kilograma de carne, aquilo que nos serviram. E da melhor: 4 centímetros de altura, cozinhada no ponto certo, com um molho ligeiramente avinagrado e as belas das batatinhas e dos grelos que tão boa conta tinham dado de si na véspera. Resultado: foi impossível acabar a dita dose e as sobremesas mais uma vez foram dispensadas.

Conclusão: comida como as nossas avós faziam, para estômagos com a devida elasticidade. Serviço simpático. O preço médio deverá rondar os 12,50 Euros por pessoa, sem vinho.

Mais informação em: http://www.lifecooler.com/edicoes/lifecooler/desenvReg.asp?reg=330663

domingo, fevereiro 19, 2006

Match Point

É sempre um prazer ver um filme 5 Estrelas. E neste caso, estamos a falar de 5 estrelas bem luzídias, como se estivéssemos no meio do campo, sem as luzes da cidade a atrapalhar.

Se Woody Allen não fosse um "desalinhado" com a indústria de Hollywood, seguramente este filme seria candidato a vários Óscares e não apenas ao de Melhor Argumento. Estaria pelo menos também nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Actor Principal. E provavelmente ainda haveria candidatos às estátuas nos papéis secundários, já para não falar da lindíssima Scarlett Johansson que voltou aos grandes papéis depois de andar a passear os seus dotes pel' "A Ilha".

Neste filme, tudo funciona, tudo corre na perfeição e não parece haver uma cena a mais ou uma cena a menos. Dá a sensação que nem poderia ser de outra maneira.

Mas o mais espantoso é que nem sequer estamos no "ambiente natural" dos filmes de Woody Allen. Não estamos em Manhattan, mas sim em Londres. E Woody nem sequer aparece, para espalhar as suas neuroses e caos habitual, deixando todo o trabalho para os excelentes actores seleccionados.

Quanto à história, é uma surpresa constante. Parece uma típica saga de sociedade e de ambição, para depois se transformar num romance, para depois... Bom, só mesmo vendo até ao fim para perceber.

Site oficial em: http://www.matchpoint.dreamworks.com

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Os sete mensageiros

Depois de há alguns meses ter devorado O Deserto dos Tártaros - uma verdadeira obra-prima que me ficará para sempre na memória (ver primeira sugestão) -, foi agora a vez do "novo" livro de contos de Dino Buzzati, recentemente lançado pela Cavalo de Ferro e baptizado a partir do primeiro dos dezanove contos que o constituem: Os sete mensageiros.
Coloco novo entre aspas, pois esta colectânea data de 1942 mas, estranhamente, só agora conhece tradução portuguesa.
E, felizmente, a excelência do livro anterior prolonga-se para os contos aqui reunidos. Não sendo todos igualmente bons (seria quase pedir o impossível), não há um único que se leia com menos entusiasmo ou avidez.
O fio condutor entre todos eles é a morte, a nossa relação com a mesma e, de quando em vez, o contacto entre o nosso mundo e o "outro". Estas incursões pelo fantástico poderiam ser um problema, pelo menos para mim, pois é tema que normalmente me desagrada ou desinteressa, mas neste caso resultam e nalguns casos são elas que criam o mote e dão sentido às histórias (ou melhor, estórias - que me custo a habituar...)
Resumindo, basta ler o primeiro conto para nos apercebermos que tão cedo não vamos conseguir parar...
Mais info em: http://www.cavalodeferro.com/index.php?action=product_info&products_id=22

domingo, janeiro 08, 2006

Desgraça

Neste excelente romance de J.M. Coetzee, a figura central é um professor universitário na Cidade do Cabo, já entrado nos cinquentas que, depois de dois divórcios, continua a acumular casos amorosos (ou melhor, sexuais).
Até que se envolve com uma das suas alunas que, depois de uma cumplicidade inicial, acaba por acusá-lo de assédio sexual.
Quando a sua demissão se torna inevitável, David Lurie (é este o seu nome) refugia-se na quinta da filha, isolada no fim do mundo que é o interior Sul-Africano.
Aqui, onde ele pensava que poderia descansar, ler, escrever e reavaliar a sua forma de estar na vida, acaba por se afundar cada vez mais, numa sucessão de acontecimentos que infelizmente descreve da pior forma o que é hoje a sociedade daquele país.
As descrições são fabulosas, quase cinematográficas, e as cenas muito fortes, mais ainda por causa dessa capacidade de nos fazer sentir que estamos lá, a assistir a tudo o que se passa.
Com este livro, Coetzee ganhou o Booker Prize de 1999 (o segundo da sua carreira) e reforçou o estatuto que o projectou para o Nobel da Literatura, com que foi laureado em 2003.
É seguramente um homem particular e multifacetado: graduou-se simultaneamente e com distinção em duas áreas bastante diversas - em Inglês e em Matemática - e iniciou a sua carreira como Programador Informático, ao mesmo tempo que preparava a sua tese sobre um romancista Inglês.
Do Editor: "Desgraça é o retrato de uma nova África do Sul e dos seus também novos problemas, um retrato que, em última análise, nos fala da beleza e do amor. Um romance inteligente, fértil, calmo e brutal que confirma Coetzee como um dos grandes romancistas do nosso tempo."

Edições Dom Quixote

terça-feira, janeiro 03, 2006

Feliz Natal

Estreou há pouco um belo filme, com um nome que decididamente não ajuda. Chama-se simplesmente Feliz Natal.
Não ajuda porque nos faz pensar logo naqueles filmes "xaroposos", normalmente de origem americana, produto típico da época natalícia e destinados a instilar na clientela (à força bruta!) os valores desta quadra. Bom, a verdade é que também aqui há um pouco disso, mas felizmente apenas q.b.
Neste caso, estamos a falar de um filme europeu, co-produção entre vários países e que se inspira numa história verídica que aconteceu durante a Primeira Guerra Mundial.
Na noite de Natal de 1914, na frente de batalha (penso que na Alsácia) e naquele universo das tristemente célebres trincheiras, soldados franceses, escoceses e alemães, devido a uma sucessão de acontecimentos (e de sentimentos), iniciaram um breve período de tréguas, que os levou a sair dos seus abrigos e a confraternizar, quase como se de amigos se tratassem.
O filme não se resume a um desfile de boas intenções, mas estas estão lá. E tanto os actores como a realização são muito bons, pelo que o todo resulta numa história muito bem contada, com a satisfação extra de sabermos que aquilo (excluindo porventura os pormenores romanceados) aconteceu de facto.
P.S.: Algo que achei excelente foi cada grupo de soldados falar a respectiva língua-mãe. Nada daquela mania estúpida de pôr toda a gente a falar inglês com sotaques parvos.
P.P.S: Não percam!

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Broken Flowers - Flores Partidas

Confesso que entrei na sala a medo depois do susto que foi Coffee and Cigarettes - seguramente uma das maiores "secas" da história cinematográfica recente. Mas este novo filme do Jim Jarmusch é uma surpresa muito razoável.

Aparece nas nossas salas já com o carimbo do prémio ganho em Cannes e tendo como actor principal o Bill Murray (sem dúvida, o protagonista do maior "comeback" cinematográfico desde o John Travolta no Pulp Fiction).

A história tem um ritmo e feeling especial, com um humor discreto e suave, e o desfile daquela América profunda e das antigas namoradas de Don é de alguma forma encantatório.

Tudo tem no entanto um sabor a "improvável", desde a placidez/preguiça de Don até às sucessivas situações em que encontra as suas antigas conquistas, o que não nos deixa mergulhar verdadeiramente no filme.

Em jeito de conclusão, apenas uma verdadeira desilusão: o final. Se calhar, para muita gente, faz sentido e até "está na moda". Quanto a mim, pareceu-me apenas um beco sem saída, de um cineasta/argumentista que não foi capaz de decidir...

Sinopse: Don Johnston (Bill Murray, novamente a vestir a pele de palhaço triste que já lhe conhecíamos dos magníficos papéis em "Lost in Translation" e "Um Peixe Fora de Água") é um especialista em computadores (à custa deles enriqueceu) e um "Don Juan maladroit" no que diz respeito a mulheres. A sua última namorada está farta dele e abandona-o. É aí que recebe uma carta anónima, de uma antiga namorada que lhe confessa que Don é pai e que o filho adolescente resolveu ir à sua procura. Incentivado pelo seu vizinho, com espírito de detective, Don, meio contrariado, decide procurar as prováveis mães desse filho, num périplo que o levará a reencontrar as suas antigas paixões e a perceber a solidão em que se tornou a sua vida.

Alice (BSO)

A sensação de qualquer coisa especial já tinha ficado entranhada aquando da visita ao cinema para ver o filme.
E editado o disco, mais do que se confirmam as primeiras impressões: a banda sonora era de facto espectacular! Considerado já pelo DN:música como o melhor disco nacional de 2005, Bernardo Sassetti compôs seguramente uma das melhores bandas sonoras alguma vez criadas para um filme português.
Citando Nuno Galopim no Sound + Vision: "Em espaço não-jazz, a música de Alice é um espantoso universo de caminhos definidos ao piano (nos dedos do próprio Bernardo Sassetti), com intervenções do clarinete de Rui Rosa e do contrabaixo de Yuri Daniel, envolvendo ainda, a dados momentos, elementos ambientais da sonoplastia do filme, colocando esta música no seu lugar de origem: uma Lisboa de horas perdidas e sofridas, uma Lisboa actual e desencantada, melancólica. Os ciclos melódicos aceitam a ideia de temas e variações, num jogo em ciclos que nos encanta."
Ideal para ouvir no calor do lar, num dia de chuva, enquanto se lê um bom livro e/ou se bebe um chá bem quente...

Breve História de Quase Tudo

Bill Bryson, conhecido pela sua excelente literatura de viagens (por exemplo, o delicioso Na Terra dos Cangurus) e pelo seu irresistível sentido de humor, decidiu agora fazer uma incursão pelo mundo da ciência através deste Breve História de Quase Tudo. E, como sempre, saiu-se mesmo muito bem. Estou em crer que, desde o Richard P. Feynman, não aparecia alguém que conseguisse transmitir tanta informação científica de forma tão agradável e interessante. Este livro lê-se como um romance, ou melhor, como uma colectânea de contos, partindo de há mais de quatro mil milhões de anos atrás até chegar aos nossos dias, passando pelo infinitamente grande e pelo infinitamente pequeno do universo que nos rodeia e compõe.
Como resumo, não resisto a plagiar a sinopse do livro, porque é tal e qual: "Uma pesquisa digna de um mamute, anos de investigação e como resultado... O Big Bang, os dinossauros, o aquecimento global, geologia, Einstein, os Curies, a teoria da evolução, a gasolina com chumbo, a teoria atómica, os quarks, os vulcões, os cromossomas, o carbono, os organismos edicarianos, a descontinuidade de Moho, o ADN, o Charles Darwin e um zilião de outras coisas. Em linguagem não demasiado científica, sempre clara e com as devidas anotações, o leitor é conduzido, por este autor extremamente divertido e bem informado, numa viagem através do tempo e do espaço, cujo prato forte é também revelar-nos algumas ironias do desenvolvimento científico. Esta é verdadeiramente uma obra que nos dá a sensação de ter o mundo na palma da mão."
Quetzal Editores
PS: A recomendação baseia-se na versão em Inglês (A Short History of Nearly Everything), mas presume-se que a tradução portuguesa faz juz ao excelente original.

terça-feira, novembro 22, 2005

A Marcha dos Pinguins

Este documentário tem vindo a ser promovido na imprensa como sendo o filme francês de maior sucesso de todos os tempos nos Estados Unidos. Sem saber se isto era ou não um bom sinal, lá se compraram os bilhetes para a respectiva sessão.

E o que se viu então? A história dos pinguins imperadores e do seu ciclo de reprodução, algures nos confins inóspitos da Antártida, em condições tão adversas que chegam a ser difíceis de imaginar.

As imagens são lindíssimas, a história está muito bem contada e o filme vale claramente a pena. A sério, vale mesmo a pena ir ver, levando toda a família, se possível.

Único problema: o realizador decidiu acompanhar de forma mais próxima um casal de pinguins mais o respectivo rebento. E até lhes deram umas vozes próprias, adicionais ao comentário em off do narrador que acompanha a acção. Ou seja, parece uma produção da Disney, com os bichos a representar personagens - de grande heroísmo e virtude, claro.

Conclusão: se fosse uma produção da National Geographic ou da Discovery, estou convencido que seriam 5 estrelas luzídias. Assim...
Consta que a versão americana é melhor, só com comentários do Morgan Freeman. A comprovar um dia destes, em DVD.

Site oficial: http://wip.warnerbros.com/marchofthepenguins/

domingo, novembro 20, 2005

O Fiel Jardineiro

Confesso que, embora os ache interessantes, não sou grande fã dos livros do John Le Carré. Pelo que foi com algum cepticismo que me dirigi ao cinema para ver este filme, mais curioso pelo facto do realizador ser Fernando Meirelles, o mesmo que nos deu a "Cidade de Deus".

Desde logo, o título é totalmente enganador, o que se calhar afasta algumas pessoas das salas. Um nome como O Fiel Jardineiro (e ainda mais o original "The Constant Gardener") remete para aquelas produções faustosas da Merchant Ivory a partir de uma qualquer adaptação de um clássico da Jane Austen.

Mas o que encontramos é afinal um filme actual, sobre uma problemática que já não é actual porque se repete desde sempre: o abandono e exploração a que a África é votada pelo mundo. Neste caso, Le Carré fez uma incursão pelos meandros da indústria farmacêutica e pela forma como esta testa alguns novos medicamentos - em seres humanos e obviamente em países onde a vida humana vale muito pouco e se compra com meia dúzia de patacos.

É claro que no final, depois de passarem os nomes dos milhares de pessoas que participaram na feitura do filme e 99% do público já saiu da sala, aparece o habitual disclaimer afirmando que todos os nomes de pessoas e empresas são fictícios. Mas surpreendentemente, Le Carré acrescenta uma segunda frase dizendo que, ao fazer a sua investigação para escrever o livro, o que descobriu sobre a indústria farmacêutica faz o filme parecer um postal ilustrado! Ou seja, neste caso, a ficção peca por defeito em relação à horrível realidade.

E só posso dizer que o filme é de facto tudo menos "simpático". Aliás, é tão subtil quanto um murro no estômago. A violência não é explícita (com poucas excepções), mas sim intuída. E deixa-nos com um nó na garganta, que começa ao minuto 15 e já não nos larga até ao fim.

Quase todo a acção é passada no Quénia mas, de caminho, Le Carré leva também o protagonista até ao Sudão, para chamar a atenção para outro genocídio que tem sido olimpicamente ignorado e para os métodos de recrutamento da guerrilha homicida e diabólica do Exército de Resistência do Senhor. Como é que as Nações Unidas e os países ricos defensores da justiça global ainda não intervieram a sério nesta situação é uma questão que depressa nos perguntamos. Será por causa do petróleo que o Governo de Cartum controla?...

Conclusão: excelente argumento, uma bela história de amor, actores de referência, excelente realização. No final, este pode não ser o filme do ano. Mas é seguramente obrigatório. Nem que seja para nos apercebermos do paraíso em que vivemos.

Protagonistas: Ralph Fiennes e Rachel Weisz

sábado, novembro 12, 2005

Fotógrafos da Natureza

Prémio Inovação
Deixo-vos uma sugestão para uma exposição que vi e que recomendo a visita. Chama-se Fotógrafos da Natureza e está patente no Museu de História Natural até ao dia 28 de Novembro.

Tem por base um concurso anual de fotografia, organizado desde 1964 pelo Museu de História Natural de Londres e pela BBC Wildlife Magazine. As imagens expostas foram seleccionadas entre 16 500 fotografias dos mais consagrados fotógrafos de natureza. As fotografias realmente indiciam a qualidade dos fotógrafos presentes, captam momentos brilhantes, únicos e celebram a beleza e a variedade da natureza em todo o seu esplendor. Cada fotografia conta uma história ou uma parte de uma história, como e porque foi tirada, muitas delas captadas em momentos de perigo para o próprio fotógrafo.
Mas não são só as fotografias em si que são verdadeiramente mágicas. O verdadeiro expoente é o objecto da própria exposição: o Planeta Terra, as plantas e os animais que nele habitam.
Vejam e deixem-se deslumbrar com as imagens...

De 2ª a 6ª feira: 10h/13h e das 14h/17h Sábados e Domingos: das 14h às 17h Preço: 2,5 € (adultos)

PostCrossing


Para quem gosta de receber postais das mais diversas partes do mundo, sem ser em formato electrónico, então tem decididamente que aderir ao projecto do Post Crossing. Não envolvendo quaisquer custos, para além do preço dos selos para envio dos postais, o processo é muito simples: registo no site http://www.postcrossing.com e, a partir do momento em que se envia o primeiro postal, tem-se direito a receber pelo menos um outro de volta. Eu aderi e, em questão de 2 meses, enviei um postal e recebi 3: um da Bélgica, outro da Grécia e, por último, um dos EUA.
Para além de recebermos algumas belas imagens, é bom dar outro uso à nossa caixa de correio que não apenas a recepção de contas para pagar…

quarta-feira, novembro 02, 2005

I Am a Bird Now

Este é o título do novo album de Antony & The Johnsons, vencedor do Mercury Prize em Setembro passado e que acaba de nos presentear com um fabuloso concerto num Coliseu dos Recreios repleto, mesmo em fim-de-semana prolongado e com uma noite chuvosa - de resto a condizer com o tom sofrido de Antony.
Este novo disco é excelente do princípio ao fim, com a incrível voz de Antony a transmitir um desassossego constante, reflexo talvez de quem não se sente de forma alguma à vontade no corpo e no sexo com que nasceu.
No concerto, para além dos seus dois albuns, houve ainda tempo de explorar alguns temas igualmente inquietantes de Nico, Leonard Cohen e Moondog (para mais informações sobre este personagem, é dar uma olhada em http://sound--vision.blogspot.com/2005/11/para-redescobrir-moondog.html), sempre em interpretações sentidas e fabulosamente executadas.
Um disco a ouvir bem alto, de forma a provocar arrepios na espinha.

Himalaya

Para quem não tenha ainda reparado, o Michael Palin voltou "à estrada". Este ex-Monty Pithon tem, desde há alguns anos a esta parte, vindo a dedicar-se à realização de séries sobre grandes viagens que têm vindo a conquistar o público e a gerar algum culto.
Depois de começar com mais uma réplica da viagem de Phileas Fogg em a "Volta ao Mundo em 80 Dias", passando por uma viagem de Pólo a Pólo e terminando com uma exploração intensiva do Sahara e dos seus povos, tem agora uma nova série sobre os Himalaias. Em 125 dias ele percorre o tecto do mundo, passando pelo Anapurna e o campo base do Evereste, e atravessando 6 países: Paquistão, India, Nepal, China (leia-se Tibete), Butão e Bangladesh.
As paisagens são fabulosas, bem como a diversidade de costumes, povos e bizarrias de que ele nos dá conta. E sempre com algum humor (britânico) e uma visão muito pessoal, embora distanciada e relativamente isenta.
Tem vindo a passar na 2: às 3ªs feiras, logo à seguir ao Jornal da Noite, ou seja, por volta das 22:30. E para quem já perdeu alguns episódios, a boa notícia é que já se consegue encontrar o DVD o livro da série na amazon.co.uk.