domingo, outubro 30, 2005

Pela China Dentro

Desta vez, são dois livros de uma só vez. Não se trata de ficção, mas sim de "diários" pessoais que, na minha opinião, são uma excelente forma de se perceber porque é que se fala tanto da China hoje em dia, como é que esta se está a preparar para ser a próxima super-potência e também quão distantes dos nossos estão ainda os padrões de vida e direitos humanos no Império do Meio, não obstante a brutal evolução que sofreram nos últimos anos.
O primeiro, Pela China Dentro (ao qual roubei o título para baptizar este post), é uma excelente introdução, contada na primeira pessoa, ao que se tem vindo a passar na China nos últimos quinze ou vinte anos. O autor, António Caeiro, foi o correspondente da Agência Lusa em Pequim durante mais de doze anos. Foi para lá pouco depois dos acontecimentos de Tienanmen e assistiu in loco às vertiginosas mudanças que se têm vindo a operar naquele que é o país mais populoso do mundo.
Estão lá todas as contradições possíveis: o "comunismo" do Partido vs. o capitalismo selvagem (até o exército abre hóteis e fábricas); a abertura da economia vs. o apertado controlo da imprensa; a modernização das cidades vs. a desertificação dos campos; a tecnologia mais avançada vs. os métodos e processos mais primitivos; e especialmente as subtilezas da língua, da cultura e da forma de pensar chinesas, tão diferentes das nossas quanto a distância que nos separa.
O livro está ordenado por capítulos cronológicos, alongando-se aqui e acolá nos acontecimentos mais relevantes ou mais marcantes (que muitas vezes passaram absolutamente despercebidos no mundo ocidental), bem como nas diversas viagens feitas a vários locais da China e até mesmo à Coreia do Norte (viagem esta que permite perceber o que era a China há 50 anos atrás).
Lê-se com enorme prazer, seguramente redobrado para quem já tenha visitado a China, como é o caso aqui deste vosso amigo.
A segunda recomendação, Senhor China, de Tim Clissold, é algo diferente. Embora foque também as brutais diferenças culturais que encontramos na China, estas são quase sempre vistas da perspectiva de alguém que investiu naquele que hoje em dia já todos apelidam de "o maior mercado do mundo".
Relata, mais uma vez na primeira pessoa, a história de um (então) jovem deslumbrado com a China que, em conjunto com um "falcão" de Wall Street, decidiu apostar neste mercado quando a famosa máxima de Deng Xiaoping de "Um País, Dois Sistemas" começou a ganhar forma e visibilidade. Juntos, conseguiram reunir 400 milhões de dólares junto de investidores e apostaram em várias indústrias com enorme potencial.
Mas durante os anos que se seguiram começaram a perceber que a forma de pensar, de trabalhar, de lidar com os directores, trabalhadores e comunidades locais não tem qualquer semelhança com o que conhecemos do Ocidente. E que os contratos, advogados, tribunais e juízes podem ter muito menos influência do que a delegação local do Partido ou do Governo.
Neste "quase romance", as aventuras económico-financeiras sucedem-se a bom ritmo, sempre com uma pitada de humor que permite aligeirar as situações dramáticas que se vão vivendo. Mas, no final, eles acabam por perder praticamente todo o dinheiro (mas não o entusiasmo!), provando mais uma vez que o "Eldorado" (o Chinês como qualquer outro) nunca é fácil de atingir.
Ou seja, fundamental como manual de navegação para quem estiver a pensar aventurar-se neste imenso e fabuloso mercado.
Pela China Dentro, António Caeiro, Dom Quixote
Senhor China, Tim Clissold, Livros Quetzal

Wallace & Gromit: A Maldição do Coelhomem


Quem há uns anos teve a felicidade de ver as curtas desta dupla e mais tarde "desbundou" o também excelente "A Fuga das Galinhas", só pode estar em pulgas para ver a nova longa-metragem dos Estúdios Aardman: "Wallace & Gromit: A Maldição do Coelhomem".

E as expectativas não são de forma alguma defraudadas. A animação está ainda mais perfeita (os bonecos de plasticina contam agora com uma pequena ajuda dos efeitos digitais da Dreamworks), o humor e as engenhocas estão ainda mais delirantes e os trocadilhos (obrigatório ver na versão original!) são absolutamente deliciosos (e muito adultos :)

Neste filme, Wallace, o eterno viciado em queijo e engenhocas-mor, mais o seu fiel cão, Gromit, têm uma empresa de controlo de pestes de roedores. Mas neste caso, os roedores não são os habituais ratos, mas sim coelhos - criaturas simpáticas e felpudinhas mas que ameaçam estragar a feira anual de vegetais, o evento mais aguardado do ano em toda a aldeia e organizado pela nobre Marquesa de Bellaflor.

É então que, para agravar a normal rotina, surge uma enorme e misteriosa criatura que espalha o terror entre os vistosos vegetais e seus orgulhosos donos.
Claro que eles vão dar conta do recado, mas no entretanto as peripécias são mais que muitas e as referências cinéfilas também, desde os filmes do James Bond ao King-Kong.

Resultado: Absolutamente a não perder!!! Obrigatório!! Imprescindível! OK, já perceberam, não?

domingo, outubro 23, 2005

Embaixada dos Sabores

Hoje fica mais uma sugestão restaurativa. O sítio chama-se Embaixada dos Sabores e o nome não é só promessa, pois estes últimos ficam de facto bem representados. Fica na Amadora, na Rua Elias Garcia 161A e vale bem qualquer deslocação que até lá se faça.
Nesta ocasião provou-se de entrada uma salada de tomate com mozzarella fresca e uns ovos mexidos com farinheira. Como prato principal veio um dos "Exclusivos" da casa: a Cataplana de Bacalhau com molho de Leite de Côco. E só se pode dizer que é pelo menos tão saboroso quanto original. O outro exclusivo é também uma cataplana, mas de Muqueca de Camarão. Rematou-se com um Bolo de Chocolate (tipo Brigadeiro) e um Gelado de Limão regado em espumante Asti. Tudo isto acompanhado por um belo Duas Quintas (Douro). Todos os pratos estavam excelentes e em porções alimentícias.
Noutras ocasiões provaram-se os bifes (fabulosos!), Lulas à Lagareiro, Picanha e Massas, sempre em grande nível. Apenas um Caril de Camarão destoou, por estarem os camarões demasiado cozidos.
O local é muito agradável, de design moderno e acolhedor, pecando apenas por algum ruído, especialmente se tivermos o azar de haver algum grupo maior.
Serviço muito simpático e bastante atencioso e uma boa notícia final: mesmo com vinho, não é fácil pagar mais de 15 Euros por pessoa.

Ou seja: altamente recomendado!
Reservas: 214937713

sábado, outubro 08, 2005

Pátria (Fatherland)

Estamos em 1964, em Berlim, e a cidade prepara-se para uma grande efeméride: daí a uns dias será o 75º aniversário do Führer, Adolf Hitler.
Mas... esperem lá! Como é que é? Hitler? Em 1964?!?
Pois, é exactamente este o ponto de partida do livro de Robert Harris, um thriller policial disfarçado de romance histórico. A Alemanha ganhou a Segunda Guerra Mundial, domina um império que se estende para Leste até aos Urais e conta para Oeste com uma Comunidade Europeia conivente e rendida à hegemonia teutónica. Neste universo alternativo, até mesmo os Estados Unidos se apresentam como possível nação "amiga", embora continuem a dar algum apoio aos Russos, por debaixo do pano.
Mas o império está a sofrer grandes revezes no Leste (que continua a resistir à ocupação) e o corpo nu de um alto funcionário do partido nazi aparece num lago dos subúrbios. Xavier March, inspector da Kripo (Kriminal Polizei), fica encarregado de investigar este caso.
Na aventura que se segue, este vai descobrindo dentro do partido uma teia cada vez mais intrincada que o leva a pôr (ainda mais) em causa a sua confiança no Estado. E a questionar de forma cada vez mais veemente o que aconteceu aos judeus, supostamente "evacuados" para Leste, mas de quem ninguém mais ouviu falar.
O livro é historicamente correcto até cerca de 1942 e baseia-se inclusive em alguns documentos oficiais e conhecidas personagens do regime nazi. Mas acaba por ser principalmente um excelente policial que nos prende do princípio ao fim, para terminar, como não podia deixar de ser, de forma algo inesperada.
A ler, decididamente.
Bertrand Editora (edição original de 1992)

terça-feira, outubro 04, 2005

Restaurante Nova Goa

Hoje fica uma sugestão para um restaurante em Lisboa que me parece ser relativamente recente. Chama-se Nova Goa e fica na Rua David de Sousa, nº 12 - ali entre o Campo Pequeno e a Avenida de Roma.

O nome não engana. A comida é obviamente Goesa e (juro que não era com intenção de rimar) uma bela surpresa. Mal nos sentamos, vêm para a mesa uns pastelinhos, Bojás de seu nome, que ajudam a distrair enquanto nos vamos preparando para as atracções principais. Ainda antes destas chegarem, aterram no nosso prato umas mini-chamuças verdadeiramente deliciosas e que nos deixam logo com uma ideia do que está para vir.

Dos pratos principais, foram provados o Chacuti (ou Xácuti) de Cabrito e o Camarão Melado, este último a especialidade da casa. E que maravilha que estavam ambos! No segundo prato, menos comum, o molho que embala os camarões até à nossa boca consiste de uma espécie de cebolada bem condimentada, mais uma componente do tipo agridoce. Tudo picante q.b, como não podia deixar de ser (saímos de lá com uns lábios tipo Mick Jagger!), e com sabores marcados e marcantes.

No final, um crepezinho de côco (Alebelle?!?) para rematar e ficou feita a festa. Por tudo isto mais as respectivas bebidas pediram-nos 14 Euros por pessoa.

Ou seja: absolutamente recomendado. Acho que a casa não enche mas, just in case, fica o telefone para reservas: 217 971 741

PS: Havia bastante gente com aspecto "Goês" a almoçar por lá - bom sinal!!!